Mesmo após o fim dos lockdowns, diferentes regras de desconfinamento para a movimentação de bens, serviços e pessoas, podem criar incerteza, assimetria de informações e um fardo regulatório pesado para as empresas, o que deve impedir que o comércio global volte ao normal com rapidez. Do ponto de vista das mercadorias, esse desconfinamento descoordenado subtrairia um total de 1,5 trilhão de dólares dos fluxos globais até o final de 2020. Isso equivale à imposição de uma elevação de tarifa global de +7pps (para uma tarifa média de 13%).
Juntando o impacto dos lockdowns e da reabertura descoordenada gradual, antecipamos que a crise da Covid-19 e suas consequências varrerão 2,4 trilhões de dólares do comércio de mercadorias (e 1,1 trilhão de dólares do comércio de serviços). No total, os danos agregados dos lockdowns e da saída deles seriam equivalentes a um súbito aumento de +11pps na tarifa média global para cerca de 17%, um nível visto pela última vez em 1994.
Apesar da recuperação em forma de U, alguns setores específicos correm o risco de sofrer pressões inflacionárias por serem mais sensíveis a disrupções na cadeia de suprimentos. Vários subcomponentes de PMI de "preços de insumos" escalaram durante os últimos meses devido aos prazos de entrega mais longos e diversas dificuldades logísticas devido aos lockdowns generalizados afetando mais da metade do PIB global. Em termos de setores, os de computadores & eletrônicos, seguidos pelos de metais & mineração, transportes, equipamento elétrico e têxteis, são os que mais sofrem com riscos de disrupções continuadas durante o desconfinamento, dada a sua dependência de insumos estrangeiros e o nível de estoques.
Em termos de países, empresas que operam na China, nos EUA, na Alemanha, França, Irlanda e na região de Benelux correm mais riscos de sofrer pressões inflacionárias e disrupções da cadeia de suprimentos, uma vez que sua dependência nas exportações de insumos estrangeiros é mais alta em comparação com seus pares e os níveis de estoques estão abaixo ou próximos à média de longo prazo.
Figura 2: Integração global da cadeia de suprimentos e nível de estoques por setor