Por último, além do impulso comercial positivo no curto prazo, a desaceleração estrutural e o reequilíbrio da economia chinesa devem desencadear uma perda cumulativa de exportações de USD 24 bilhões até 2030 para os dez países em nossa amostra. Sendo a primeira economia a entrar e sair da recessão, a China lidera a recuperação global da crise da Covid-19 em 2020. A forte retomada da economia chinesa desde o segundo tri de 2020 foi impulsionada sobretudo por exportações surpreendentemente resistentes, juntamente com uma atividade robusta nos setores de construção e infraestrutura. Obviamente, esses últimos setores também são uma boa notícia para os parceiros comerciais da China, principalmente para os exportadores de commodities.
No entanto, a longo prazo, a economia chinesa caminha para uma desaceleração estrutural sob o impacto da redução da oferta de trabalho e da acumulação de capital, bem como da desaceleração dos ganhos de produtividade. Estimamos que o crescimento do PIB da China fique, em média, entre +3,8% e +4,9% na próxima década (após +7,6% na década de 2010), dependendo do sucesso das reformas estruturais na elevação do crescimento potencial. Além disso, o aumento da retórica protecionista em todo o mundo, juntamente com a estratégia de dupla circulação lançada este ano, provavelmente transformarão o comércio exterior do país. Em particular, a estratégia comercial da China parece priorizar a manutenção das participações no mercado de exportação enquanto reduz a dependência das importações.
Levando em consideração essas mudanças estruturais, podemos quantificar a quantidade de demanda interna chinesa que será 'perdida' em comparação com uma situação de crescimento semelhante à de 2010 para os países que exportam para a China. Descobrimos que, em termos de valor, Brasil, Angola e África do Sul incorreriam na maior perda cumulativa de exportações até 2030, totalizando USD 14 bilhões, USD 5 bilhões e USD 2 bilhões, respectivamente (ver Figura 4). Em termos relativos, Angola, Zâmbia e Gana seriam os mais atingidos, com a perda acumulada das exportações chegando a 5,8%, 1,4% e 0,9% dos respetivos PIBs.
Figura 4: Perda cumulativa de exportações até 2030 causada por mudanças estruturais chinesas (desaceleração e reequilíbrio)