No dia 23 de março de 2021, um navio porta-contêineres de 400 metros encalhou no Canal de Suez. Calculamos que cada dia de imobilização possa custar ao comércio global US$ 6 bilhões a 10 bilhões. O canal é a porta de entrada para a movimentação de mercadorias entre a Europa e a Ásia e recebeu mais de 19.000 navios em 2019, ou 1,25 bilhão de toneladas de carga. Isso representa cerca de 13% do comércio mundial, portanto, qualquer bloqueio provavelmente terá um impacto significativo. Em particular, esse incidente provavelmente resultará em atrasos no envio de itens de uso diário para consumidores em todo o mundo. De acordo com a Lloyd's List, a cada dia que leva para limpar a obstrução, haverá um valor adicional de US$ 9 bilhões em mercadorias. Cálculos aproximados sugerem que o tráfego no sentido oeste vale cerca de US$ 5,1 bilhões por dia, enquanto no sentido leste vale US$ 4,5 bilhões. No entanto, os mecanismos de enfrentamento estão em vigor. De acordo com nossa estimativa, cada semana de paralização deve custar de -0,2 pp a -0,4 pp de crescimento anual para o comércio. Observe que em nossas estimativas, presumimos que o navio bloqueará o canal por apenas mais uma semana.
O problema é que o bloqueio do Canal de Suez é a gota d'água que pode quebrar o comércio global. O impacto do recrudescimento da pandemia na cadeia de suprimentos sozinho (escassez de contêineres, semicondutores, etc.) já pode custar ao crescimento real do comércio -1,4 pp ou US$ 230 bilhões. Na Europa, os prazos de entrega dos fornecedores já vinham aumentando, desde o início do ano, e agora já estão mais longos do que durante o pico da pandemia em 2020 (ver Figura 1). A queda do indicador é equivalente ao que aconteceu em 2020 entre janeiro e abril para os europeus e é quase duas vezes pior para os norte-americanos. O alongamento dos prazos nos EUA pode ser explicado pelo rápido esgotamento dos estoques no setor de manufatura, uma vez que as empresas anteciparam um aumento na demanda causado pelo estímulo do presidente Biden (ver Figura 2).
Figura 1: Prazo de entrega dos fornecedores no setor de manufatura (quanto menor o índice, maiores são os prazos de entrega)