Os dados do segundo trimestre confirmaram uma contração sem precedentes no PIB global (-6,1% t/t) após o choque da Covid-19, quase quatro vezes pior do que a crise de 2009. No entanto, alguns países foram atingidos com muito mais força do que outros devido às diferenças na intensidade do lockdown e na estrutura de suas economias: França Itália, Reino Unido e Espanha foram mais afetados do que os EUA, Alemanha e Holanda.
Durante o terceiro trimestre, as estratégias de desconfinamento ganharam força, permitindo várias surpresas positivas nos dados econômicos, especialmente nas carteiras de pedidos, nos mercados domésticos e nas vendas do varejo, graças à demanda acumulada ao longo do lockdown.
Quanto às indústrias, a produção global ficou em -8% a/a em junho e a confiança no setor fabril atingiu os níveis pré-crise. Isso confirmou nosso alerta de que haveria um retorno mais rápido aos níveis pré-crise para a atividade no setor manufatureiro.
No entanto, acreditamos que a recuperação perderá força no quarto trimestre devido a restrições sanitárias mais rígidas e à redução de empregos que está em curso, para que as empresas possam manter gastos e investimentos sob controle.
Continuamos na Fase 2 da crise da Covid-19, o que significa que a reabertura continuará a ser divergente e dependente da evolução da crise sanitária local.
Em abril, identificamos quatro fases diferentes da crise da Covid-19. Durante a fase 1, caracterizada pela urgência de medidas monetárias, fiscais e sanitárias, a atividade real sofreu muito com o lockdown, como refletido pela forte contração do PIB em vários países.
Agora, estamos na fase 2, caracterizada por restrições sanitárias mais direcionadas e progressivas em resposta ao aumento nas infecções, com ameaças persistentes de lockdown em países onde a segunda onda surge. Portanto, espera-se que a recuperação desacelere no quarto trimestre e, em alguns casos, tenha a forma da letra W.
Fase 3 da crise da Covid-19: Transição para a normalização, com uma abordagem cautelosa até o final de 2021.
Durante a fase 3 (do quarto trimestre de 2020 até o final de 2021), esperamos uma sucessão de restrições sanitárias mais rígidas e segmentadas, seguidas por períodos de flexibilização. Essa tendência de restrições intermitentes continuará até o final de 2021, assumindo que uma vacina esteja amplamente disponível a partir de setembro do ano que vem.
Embora não congele o novo ciclo de investimento, esse ciclo será prejudicado, causando assimetrias de crescimento entre os países devido a condições iniciais heterogêneas, estímulos de tamanhos diferentes, estratégias de confinamento divergentes e o possível acesso desigual a vacinas.
A Fase 3 também apresentará a implementação de novos pacotes de estímulo fiscal, mas em um grau um pouco menor, mantendo a economia global abaixo dos níveis anteriores à crise até o final de 2021.
Ainda temos um caminho a percorrer até chegarmos à quarta e última fase da crise: O que será necessário para uma normalização completa em 2022?
Do início de 2022 em diante, as vacinas deverão estar disponíveis em larga escala para os países mais avançados nessa corrida (Rússia, China, Reino Unido e Estados Unidos) e ser progressivamente distribuídas para o resto do mundo.
De acordo com a própria avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a distribuição completa de uma vacina em nível global poderia terminar até o final de 2022. Nesse contexto, os índices de rigor devem retornar aos seus níveis mínimos e 80% do PIB global estará de volta aos níveis pré-crise.
No entanto, não devemos subestimar o risco de uma possível disrupção temporária no setor de transportes durante a campanha global de vacinação. Na verdade, a entrega das vacinas poderia mobilizar metade da capacidade global de transporte por vários meses.
Figura 1: Projeções do PIB real, %